A francesa Marthe Béraud
iniciou sua "carreira" de médium em 1906, aos 19 anos. Após a morte do noivo, filho de um influente general, ela foi viver com os ex-futuros sogros na Argélia. Lá começou a se dizer capaz de materializar um fantasma. Nas apresentações, que atraíam representantes da alta sociedade, a figura de um homem com uma densa barba negra - e ostentando um turbante - surgia entre as cortinas que separavam Marthe da platéia. A aparição dizia se chamar Bien Boa, um hindu que teria vivido mais de 300 anos antes. Apesar dos detalhes quase cômicos (certa ocasião, a longa salva de palmas acompanhada de gritos de "bravo!" fez Bien Boa reaparecer de trás das cortinas para reverenciar o público), a credibilidade das apresentações só ruiu quando um cocheiro árabe chamado Areski revelou que era ele quem fazia o papel do hindu. Um alçapão oculto seria o truque para entrar em cena. Os defensores de Marthe alegaram que Areski estava mentindo para se vingar por ter sido demitido. De qualquer forma, a denúncia obrigou Marthe a sair temporariamente de cena.
Alguns anos depois, Marthe reapareceu em Paris, ostentando então o nome Eva Carrière - ou, como gostava de ser chamada, Eva C. As aparições de Bien Boa deram lugar a uma nova habilidade: materializar imagens de rostos humanos. Em processos novamente realizados em ambientes escondidos por cortinas, as imagens surgiam grudadas no pescoço ou no cabelo de Marthe. As fotografias das sessões de Eva C. causaram sensação no período entre 1909 e 1913. Aos olhos de hoje, contudo, soam até ingênuas - as "materializações" eram visivelmente feitas de papel amassado.
A fraude de Eva C. começou a ser desmascarada quando alguém notou que os rostos eram muito parecidos com os de fotos publicadas na revista Le Miroir, grosseiramente retocadas. Mesmo com todas as evidências, seus defensores ensaiaram uma explicação: ela era leitora assídua da revista e isso teria influenciado o seu dom paranormal.